Começar com leveza
É 2021.
O futuro de ontem chegou.

12 passas para 12 desejos.

Lembro-me de, já em criança, achar um exagero.
Passa-se um ano sem desejos – no máximo, lá surge um ao morder a vela debaixo da mesa – e, de uma vez, temos 12 para decidir.
Ainda para mais, ao dar 12 desejos a cada uma das 7.836.041.798 pessoas que coexistem, aumenta-se (exponencialmente) a probabilidade de desejos contraditórios.
Se eu desejar paz mundial e o meu irmão um mundo justo, o que faz a coitada da passa?
Foi no final do século XIX que está tradição começou, pelo menos na Península Ibérica.
A câmara municipal de Madrid, numa tentativa de impor os festejos do Ano Novo, instituiu um imposto para quem celebrasse o Dia dos Reis Magos (6 de Janeiro).
Numa revolta simbólica, os espanhóis comeram passas, em vez de uvas – como se fazia na Alemanha e em França.
A ideia expandiu-se depois para Portugal.
(fonte – Sábado)
Fico contente que a tradição venha de uma forma simpática de revolta. Afinal, dadas as restrições, é a única forma segura de nos revoltarmos contra 2020.
Ainda assim, fica a questão:
É saudável comer passas – das que geram desejos – num ano que se apresenta assim?
As certezas são nefastas: de uma pandemia por resolver, à crise que se avizinha – desconfio que até as passas se acanham.
E, a verdade, é que depois da transição 2019-2020, elas já não devem estar muito seguras dos seus poderes.

Proponho, então, uma alternativa:
- Uma passa para cada, um desejo para cada.
Se já fizeram os vossos 12 desejos, escolham 11 para remover (já falei com as passas e não há problema) e ficamos, assim, com 1 desejo cada um.
Considerando o que se avizinha, acho que todos partilharemos as mesmas aspirações – ainda que com palavras distintas – o que não só facilita o trabalho das passas, como certamente aumenta a probabilidade de um de nós ter os pózinhos mágicos alinhados.
Fora de brincadeiras, que comecemos com leveza.
Deixemos 2021 ganhar confiança.
Até lá: