Dias cinzentos.

Estendo as horas, ao prolongar os segundos que ficaram aquém.
Lá fora, os dias contaminam-se.
Vê-se as cores amedrontadas pelo cinzento pleno, e a chuva – morrinhenta – amedronta os poucos que se aventuram no exterior.
Correm, sem guarda-chuva, ou caminham, com guarda-chuva, numa falsa sensação de segurança que só se estende até que o vento mude.
Ao mudar-se o vento, mudam-se as chuvas, os homens, os medos.

Desconheço que dia é hoje que não foi ontem.
Talvez se estendam também, os dias, sobrepondo-se uns ao outros de tal modo que se convergem num só, num único destino.
Talvez o sol escondido de hoje, seja o sol que se escondia ontem, e os raios que se reflectem hoje, no cinzento, tenham sido ontem também reflectidos – num vaivém espacial que embala o mundo.
Podia escalar a montanha, subir às nuvens num avião ou só bater as asas e voar e, ao chegar ao alto, onde coexistem as moléculas que definem os nossos limites, perguntar directamente ao astro-rei se ele se recorda do que fez ontem, e se isso difere do que fez hoje.
Certamente não obteria resposta.
Mas, e daí?
Valeria pela vista.