Crónicas para dormir (XVII):
Expressão.

Expresso-me sempre em espaços curtos; como o morrer de um dia incendeia os céus, naquele singelo momento, indiferente a quem o vê.
Todos o vemos morrer, no entanto, por entre a sua indiferença; está na luz e em tudo o resto: as sombras que projeta, as nuvens que reluzem.
Também eu, somado aos curtos, me expresso em tudo; as palavras são tão-somente, a forma que aprendemos a ouvir, mas eu falo em várias línguas, comunico com os gestos, dedico os meus desejos à ambígua expressão.

Expresso-me, portanto, em todos os espaços curtos, universal na perceção para quem os saiba ler.
Sou uma máquina de expressão íntima, as vísceras cospem-se-me como se capazes de livre-arbítrio.
Que mais faço eu?
De onde nascem os prolongamentos em que não me expresso?
Não é que os tema – os prolongamentos, os sentires que se estendem por aí, desregrados e nus, sem vergonha de si.
Contudo, é-me difícil de aceitar que algo que se prolonga, importa.
A vida não se prolonga.
Imortais são as pedras – e mesmo essas mudam de aparência.
O mundo termina-se antes de se cansar.
Para quê desejar algo que o mundo não quer para si?
Cada segundo, é um segundo de expressão; termina logo após, e transporta consigo ao oblívio o que foi expresso em si.
Nada é eterno.
Cada erro é finito.
O correto é só nosso.