Crónicas para dormir (VII)
Sangram as virtudes.
A noite não disfarça os balanços que as criam; a maquinaria, débil, que mantém tudo em uníssono; as incongruências compatíveis.

Penetro – moribundo – na transcendência, somente para fugir de lá com o mais fugaz dos movimentos ou dos sons.
O ciclo repete-se e, com a repetição, o ciclo revela-se.
São terrenos corruptos.
Mares poluídos.
Luzes que não chegam, mas anunciam-se; não me vá eu esquecer que existem e que persistem longe do meu chão, do meu solo, do meu quintal, do meu recanto, onde eu existo, onde eu persisto.
O ciclo repete-se.

Dizem que nasci nos momentos que interligam a queda do sol e o erguer da lua; que vim em má-hora, a uma sexta tardia, quando já sonhavam com o fim de semana.
Tentaram atrasar-me para segunda; mas eu berrei-lhes do ventre, e eles – coitados – temendo o sufoco de um cérebro em ressaca, salvaram-me ao fazer-me nascer.
Mas há quem morra sem nascer.

Desejo e ausência.
É tudo. No fundo de tudo, é só isso.
É onde persistem as vontades, as crenças, as indefinições, os solavancos de raciocínio.
Se eu rasgar os limites do meu corpo, estender os braços para lá do ovo que me embala, vejo dois mundos de carne:
Ou digerida, ou inconsciente de si.
E, inerente a ambas, o desejo que as conecta de não ser a outra.
E, inerente a ambas, a ausência que as conecta de não ser a outra.